sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Comentários. Não leia.

Quantas vezes eu já me disse esta mesma frase: “Não leia nenhum comentário em postagens no Facebook ou em site de notícias”. Realmente não tem nenhum objetivo em ler comentários a não ser ficar chateada ou extremamente chocada com o que acabou de ler em uma página progressista, de pessoas supostamente progressistas. Usando técnicas de meditação, passei a repetir várias vezes esse mantra até que ele entrou na minha cabeça. Mesmo assim vez ou outra lá vou eu ler o que as pessoas acham sobre determinados temas, que podem variar sobre uma nova teoria sobre buracos negros ao novo corte de cabelo da Jennifer Lawrence.

E é justamente sobre a interprete da Katniss Everdeen que leio uma matéria em um site que eu acho bacana, sobre uma moça que detesta a J-Law. A matéria é legal, fala sobre o empoderamento das mulheres e da imposição secular da indústria cinematográfica americana de ter sempre uma “queridinha” para que nós mulheres possamos copiar roupa, sapato, cabelo, estilo e tudo que vem no pacote vendido diariamente em todos os lugares. A moça faz lá a sua meia culpa, admite que sua resistência a essas “Queridinhas” (ou “ir-gilr) do momento a fez detestar Jennifer Lawrence.

Como o artigo era bacana, falava sobre a brutal imposição as mulheres, resolvi ler os comentários (eram apenas 6 na época). A primeira coisa que pensei quando terminei de ler foi: sério, agora eu vou sair do Facebook para sempre. As meninas chamavam a autora de mal amada, falavam que ela tinha inveja porque Jennifer Lawrence era super gata, gostosa, linda, loira, rica, só namorava homens gatos e ricos e etc. Eram mulheres que falavam isso. Nós falávamos isso de outras mulheres porque nós estamos sempre falando das mulheres.

Tudo bem que o Brasil vive um dos seus momentos mais deprimentes de sua história, com pessoas afirmando as coisas mais absurdas e sendo aplaudidas por isso. Mas não conseguir entender o que a autora queria expressar, isso é falta de interpretação de texto. As pessoas só leem o título e não conseguem passar do primeiro parágrafo. A nossa sociedade leva tudo ao extremo, você só pode amar ou odiar alguma coisa. É melhor chamar a autora de mal amada do que admitir que o que acontece em hollywood acontece com todas as mulheres todos os dias.

Eu confesso que vou continuar sem discutir e tentar convencer ninguém no Facebook porque eu acho que mais de 70% das pessoas não estão abertas ao contraditório. Não querem ler aquele texto enorme sobre um assunto sério. Assim como eu não vou discutir com meu primo policial que acha que se ele matar alguém não é assassinato, é inútil. E olha que eu adoro uma discussão, mas bem argumentada. Gostaria muito de ver nós mulheres parando de nos chamar de mal amadas e gostaria ainda mais de ver os pais incentivando os seus filhos da importância de saber interpretar um texto.

Porque para interpretar um texto é preciso base. É preciso saber que o mundo sempre foi governado por homens e a nossa história foi contada por homens. É preciso saber que as bruxas queimadas na “santa inquisição” eram mulheres educadas que ameaçavam o patriarcado. É preciso saber que os homens sempre bateram nas mulheres amparados pela lei e que nós não éramos consideradas capazes de votar até muito pouco tempo atrás. E isso são apenas algumas das violências sofridas pelas mulheres ao longo da história e que persistem até os dias atuais.

O feminismo não é uma guerra contra os homens, é a tentativa de uma coexistência com os mesmos direitos. É triste ver uma mulher se afirmando como machista. É triste saber que a gente tem muito trabalho “de base” para fazer e que tem que ser feito exaustivamente. Ainda prefiro a saliva aos polegares opositores. Do Facebook, gosto de muita coisa, acho instrumento importantíssimo para fazer um contraponto a grande mídia, mas confesso que perco a paciência e vou ver vídeos de gatinhos às vezes. Pelo menos a decepção vira riso.  

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